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terça-feira, 16 de abril de 2013

Entrevista com o dramaturgo de Nós e um Laço
 e escritor Jura Arruda
 
 
Você entregou sua terceira peça de teatro “Nós (e um laço)” ao Grupo Jota de Artes
Cênicas recentemente. Como você identifica as diferenças e os pontos em comum
com as duas peças dramatúrgicas entregues anteriormente?
 
Acho que são trabalhos bem diferentes. Enquanto “Uma Festa Para Eulália” tem
um humor escrachado beirando a farsa e “Vontade de Ser Mulher” é um monólogo
quase introspectivo em que a personagem lida com seu passado, seus traumas e
dúvidas, “Nós (e um laço) fala de relação a dois, que vai da conquista ao cotidiano.
Diria que é uma comédia romântica, com uma linguagem quase cinematográfica, e
talvez esse seja o único ponto em comum com “Uma Festa Para Eulália”, sobre a
qual já ouvi de algumas pessoas, que daria uma ótima comédia para o cinema.
 
 
A possibilidade de transitar entre cinema, teatro e a literatura te cobra uma busca
maior por referências não é? Quais são elas?
 
Engraçado, João, eu nunca parei pra pensar sobre isso, mas certamente sou
influenciado. Toda nova obra é releitura de muita coisa. Eu devo misturar muito as
três linguagens. De usar coisas do cinema, no teatro; da literatura no cinema…
Gosto do cinema europeu e me encanto com quase todos os filmes do cinema
argentino. Uma identificação muito grande.
Já no teatro, eu tenho uma tendência a escrever comédia de costumes, é uma
linguagem natural. Daí o apreço por Molière, por exemplo. Quando escrevo comédia
o texto flui mais naturalmente.
Em termos de literatura, a que me encanta é a brasileira, sempre mais do que as
outras. De Monteiro Lobato a Marcelino Freire, gosto de muita coisa.
 
 
Fale como se sente ao ver seu roteiro para vídeo/cinema pronto. Como foi ver
Infância de Monique?
 
Caramba, eu achei lindo o filme. Mas vou confessar, o roteiro é do Fabrício Porto, eu
só dei pitacos. No final da exibição no Juarez Machado, o Fábio Porto, diretor, veio
me perguntar se eu tinha visto meu dedinho ali. Sabe que eu não identifiquei o que
era texto meu ou do Fabrício? Nem que piadas eu tinha colocado ou ele? Estranho,
né? Devo ter problemas sério de memória. Sobre o que falávamos mesmo? Ah, sim.
Me senti muito feliz de ver o filme pronto. Quando você trabalha num roteiro, tudo
fica por conta da imaginação, o roteiro é só literatura. Mas quando o filme vai à tela
e você vê as personagens vivas no corpo dos atores, é tudo muito mágico.
 
 
Soube que tem uma oficina de produção literária pronta. Fale sobre isso para que os
interessados possam saber exatamente do que se trata?
 
É uma oficina de criação de histórias. É curtinha, de apenas 4 horas, porque foi
pensada para escolas. Mas a Cristina Puccini, produtora cultural lançou a ideia de
abrirmos uma oficina para o público em geral. Mantivemos o tempo e a estrutura,
que deu certo no ano passado. A ideia é passar algumas técnicas bem básicas para
a produção de histórias, seja em que formato for, de rascunho de carta a roteiro para
cinema, e mostrar que qualquer um pode escrever. Estilo e qualidade literária se
discute depois, mas todo mundo é capaz de inventar e contar uma história.
Vou contar um episódio bem rápido. No ano passado, depois de uma oficina
ministrada em uma escola de Pirabeiraba, recebi um recado de um aluno que dizia
mais ou menos assim: “Jura Arruda, obrigado. Eu não sabia que gostava tanto de
escrever”. Isso é um troféu!
 
 
Como seus livros "Fritz, um sapo nas terras do príncipe" e "Uma árvore que dá o
que falar" contribuíram para sua perspectiva em explorar outras áreas?
 
Eu sempre fui do tipo que sabe fazer de tudo um pouco. Explorar várias áreas é
meio natural pra mim. Acho que a versatilidade sempre foi uma marca, por isso,
sempre explorei vários meios e linguagens, e acho que por isso também até hoje
não sei muito bem pra onde ir. (risos).
Os livros contribuíram, a bem da verdade, para eu externar meu desejo de contar
histórias, de promover emoções. Isso também funciona quando escrevo para o
teatro e para vídeo.
 
Não escondendo a vontade de me aproveitar da oportunidade cedida . Como foi
trabalhar em NÓS EM LAÇO e ter um texto seu dirigido por Lucas David, que já tem
um nome garantido na cena teatral e ver seus personagens interpretados por jovens
atores em idade mas com muita experiência nos palcos como Jonas Raitz e Juliana
Araújo?
 
Quando a Juliana me chamou para escrever uma peça de amor, meus olhos
brilharam. É muito bom falar de amor, de romance, de sentimento, de perda, de
conquista. No pedido dela tinha também um ingrediente muito sério, o da confiança.
A Juliana demonstrou confiança no meu trabalho desde o início, e isso me deixou à
vontade para criar. Entregar o texto pra ela, depois, e saber que ela chorou quando
terminou de ler, foi incrível.
Com o texto pronto, conversei muito com o Lucas, que além de todo talento, é
de uma generosidade sem tamanho. Seu respeito pela dramaturgia é outra coisa
que tem marcado muito nesse trabalho. Quando quer mexer em alguma coisa, me
chama e mexemos juntos. Outra coisa bacana é quando ele comenta as cenas que
criou, a cenografia que vai usar, a luz e as marcações, eu tenho vontade de ajoelhar
e fazer uma saudação. É sério! O Lucas é um gênio, sou fã incondicional, e estar
trabalhando com ele é, sem dúvida, uma realização.
Confesso que ainda não consegui assistir a nenhum dos ensaios e não pude, ainda,
ver Jonas e Juliana fazendo a Ornela e o Edvaldo, mas conheço os dois por outros
trabalhos e acho que a peça está em ótimas mãos. São dois atores com muita
presença no palco, com muita força e isso vai tornar o espetáculo denso e cativante.
Conto as horas para o dia 3 de maio.
 
 
Estamos todos juntos Jura ... grande abraço e obrigado.